Matéria publicada em Junho, no Jornal DCI, com uma entrevista minha, projetando a taxa SELIC para 10% até o final do ano. O jornalista riu quando eu disse isso… E eu perguntei porque ele riu. A resposta foi de que eu era o único economista do mercado todo que havia feito uma projeção tão alta… E aí eu sorri e disse, amigo, pode publicar porque eu serei o único economista certo… Nós economistas, não acertamos sempre, aliás erramos muito, mas desta vez minha projeção está se concretizando.
Copom sinaliza maior atenção à inflação e mais altas da Selic
07/06/2013 por DCI
SÃO PAULO
A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada ontem pelo Banco Central (BC) mostrou que a preocupação com a pressão inflacionária intensificou. Desta forma, a sinalização é de que haverá mais altas da taxa básica de juros (Selic) até o final deste ano, a partir dos atuais 8%. Para a maioria dos especialistas, a taxa deve fechar a 8,75% ao ano, mas há expectativas de que a Selic possa voltar a atingir a casa dos dois dígitos.
“Nos primeiros anos da gestão de Alexandre Tombini [presidente do BC] houve uma preocupação em manter a atividade econômica e reduzir a dívida líquida pública em relação ao PIB [Produto Interno Bruto]. Desta forma, o BC brasileiro seguiu a dinâmica internacional e reduziu os juros. Contudo, o governo errou na dose, à medida que os recursos estrangeiros saíram em virtude da baixa taxa de retorno, ao mesmo tempo em que, sem investimentos e consumo crescente, a inflação foi subindo, o que voltou a ser um fato preocupante. Por isso, eu acredito que vai haver mais elevações da Selic, podendo chegar até a 10% ainda neste ano”, analisa o professor da BBS Business School, Ricardo Torres.
O sócio da gestora Queluz, Luiz Monteiro, também entende que a ata sinalizou que o BC vai atuar de forma “bastante dura” para controlar a inflação. “Houve uma mudança no discurso em relação aos meses anteriores, com destaque também na importância dada pelo Banco Central em atingir o compromisso fiscal [economia do governo para pagar os juros da dívida pública]. Assim, a sinalização é de que os juros irão continuar a subir até que a inflação ceda”, aponta.
O especialista prevê que haverá mais uma alta de 0,5 ponto percentual na taxa Selic, mas não tem uma previsão fechada para o final do ano. “Ninguém sabe ao certo quanto vai fechar, porque os aumentos não devem cessar até a inflação cair”, ressalta.
Também de acordo com Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco e Caio Megale, que faz parte da mesma equipe, o destaque da ata divulgada ontem é a preocupação com a tendência de elevação da inflação do Índice de Preços Nacional ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado em 12 meses. Para eles, foram três razões que embasaram a decisão de elevar os juros em 0,50 ponto percentual. “Em primeiro, o parágrafo 24 indica preocupação com o crescimento excessivo da absorção interna e afirma que as demais ações de política econômica, além da política monetária, continuarão estimulando esta dinâmica”, disseram os especialistas, por meio de nota.
O parágrafo em questão informa que para o Copom “a absorção interna vem se expandido a taxas maiores do que as de crescimento do PIB e tende a ser beneficiada pelos efeitos de ações de política fiscal, pela expansão da oferta de crédito para pessoas físicas e empresas, e pelo programa de concessão de serviços públicos, entre outros fatores”.
A segunda razão apontada pelos economistas do Itaú é a preocupação com a evolução do mercado de trabalho, ao afirmar no parágrafo 28 do documento do BC que “a dinâmica salarial permanece originando pressões inflacionárias de custos”.
Na opinião de Torres, o mercado de trabalho sempre esteve no radar Banco Central, mas a atenção dada para a dinâmica salarial aparece com mais força nessa recente ata do Copom.
“Em terceiro, a ata lembra que a inflação corrente elevada afeta a dinâmica prospectiva da inflação através de mecanismos formais e informais e a piora na percepção dos agentes econômicos, também segundo o parágrafo 28”, acrescentaram na nota.
Eles projetam que o IPCA em 12 meses atinge seu pico em junho, de 6,5%, e começa a recuar no terceiro trimestre. “Caso confirmado, entendemos que esta tendência levará o Copom a interromper o ciclo de alta de juros após a reunião de agosto deste ano. Esperamos uma subida adicional de 0,50 ponto na próxima reunião e uma última elevação de 0,25 ponto no em agosto.”
Atividade econômica
O sócio da Queluz comentou ainda que a dúvida neste momento é se vai haver um choque do aperto monetário com as intenções do governo em fortalecer a economia. “Com o aumento dos juros, vai ocorrer um arrefecimento da atividade econômica e isso pode afetar o prestígio da [presidente] Dilma Rousseff, e nos seus objetivos eleitorais”, diz.
Na ata do Copom, os diretores da autoridade monetária – que foram unânimes em votar pelo aumento de 0,5 ponto a taxa Selic na última reunião – afirmaram que ” o ritmo de atividade doméstica será mais intenso neste e no próximo ano”. “Nesse contexto, informações recentes indicam retomada dos investimentos e continuidade do crescimento do consumo das famílias, favorecido pelas transferências públicas e pelo vigor do mercado de trabalho – que se reflete em taxas de desemprego historicamente baixas e em crescimento dos salários”, afirmou o documento.